Livro: "Vozes de Tchernóbil" por Svetlana Aleksiévitch

Título: Vozes de Tchernóbil - a  história oral do desastre nuclear

Autora: Svetlana Aleksiévitch
Tradução: Sônia Branco

ISBN: 978.85.359.2708-5
Ano: 2016
Editora: Companhia das Letras

Gênero: Narrativas reais

Informações adicionais:
Número de páginas: 384
Tipo de diagramação: Diagramação simples, fontes com serifa e páginas amareladas, abres em caixa alto no começo do capítulo.

Sinopse: 
Em 26 de abril de 1986, uma explosão seguida de incêndio na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia - então parte da finada União Soviética -, provocou uma catástrofe sem precedentes em toda a era nuclear: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera da URSS e em boa parte da Europa. Em poucos dias, a cidade de Prípiat, fundada em 1970, teve que ser evacuada. Pessoas, animais e plantas, expostos à radiação liberada pelo vazamento da usina, padeceram imediatamente ou nas semanas seguintes. Tão grave quanto o acontecimento foi a postura dos governantes e gestores soviéticos (que nem desconfiavam estar às vésperas da queda do regime, ocorrida poucos anos depois). Esquivavam-se da verdade e expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os serviços de reparo na usina. Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, recebiam poucas informações, numa luta inglória, em que pás eram usadas para combater o átomo. A morte chegava em poucos dias. Com sorte, podia-se ser sepultado como um patriota em jazigos lacrados. É por meio das múltiplas vozes - de viúvas, trabalhadores afetados, cientistas ainda debilitados pela experiência, soldados, gente do povo - que Svetlana Aleksiévitch constrói esse livro arrebatador, a um só tempo, relato e testemunho de uma tragédia quase indizível. Cenas terríveis, acontecimentos dramáticos, episódios patéticos, tudo na história de Tchernóbil aparece com a força das melhores reportagens jornalísticas e a potência dos maiores romances literários. Eis uma obra-prima do nosso tempo.

 Nota:

Resenha:

Desde o ano passado, quando comprei esse livro da Svetlana Aleksiévitch, tentava me preparar psicologicamente para ler algo real e triste. Afinal, esse livro ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 2015 justamente por dar voz as pessoas que não foram ouvidas no desastre da usina nuclear de Chernobyl, em Pripyat, Ucrânia.

Svetlana Aleksiévitch trabalhou por anos nesta obra, indo falar com pessoas que moraram na cidade, nos campos ao redor, trabalhadores da usina, convocados para trabalhar após o desastre, médicos, estudiosos e diversas outras pessoas. A autora dá voz desde a mulher de um dos bombeiros que foi com a roupa do próprio corpo "apagar as chamas" sem saber que aquilo o mataria, até as crianças nascidas de pessoas que lá estiveram.

A falta de atitude imediata dos responsáveis pela usina, a forma como tentaram esconder da população o quanto aquilo tudo era sério e o como mentiram para eles que "ficariam só 3 dias fora de casa", mas na verdade nunca mais eles poderiam voltar, é narrada por pessoas que viveram isso e que até hoje sentem as consequências.

É de partir o coração quando descobrimos que essas pessoas acabaram por viver como páreas sociais e muitos voltaram a morar na "área de exclusão", pois eram vistos como monstros e aberrações pelas outras pessoas e chegaram a ter atendimento médico negado (pois os médicos não queriam "pegar aquilo também").

A forma como as coisas foram tratadas no imaginário popular (como dizer que lá nasceram peixes de três olhos, por exemplo) não ajudava em nada, já que as pessoas passaram a acreditar que os vindos daquela região não deveriam nem ao menos ter filhos (sim, inclusive crianças, há o caso de uma moça que desistiu de casar porque a sogra, que é descrita como alguém boa até, disse que por ela vir de lá não tinha direito de casar e reproduzir-se).

Muitos ficaram sem ter onde morar e sem apoio dos próprios parentes, já que com o decorrer do tempo nenhuma ajuda financeira lhes eram prestadas. mesmo que todos tenham saído dali com uma mão na frente e outra atrás.

Homens que trabalharam para conter o vazamento também contam como foram enganados para se alistar, o quanto mentiam sobre o quanto estavam sendo expostos e como não possuem dados sobre suas saúdes, já que tudo era sigiloso e os era negado. Pessoas que nasceram com doenças ou as desenvolveram na vida por conta do vazamento também contam como não conseguiam entrar na justiça contra ninguém, já que seus diagnósticos médicos eram colocados como "consequências normais".

Um livro muito forte e cheio de informações, mas que realmente tem que se estar bem firme para ler, pois cada relato é um choque ainda maior sobre a situação em que o povo foi lançado sem de nada suspeitar, principalmente os camponeses mais humildes.

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