Livro: "Por Que Ocupamos?" por Guilherme Boulos

Título: Por Que Ocupamos? - uma introdução à luta dos sem-teto (4ª edição com novo prefácio)

Autor: Guilherme Boulos

ISBN: 978.85.69536.01-7
Ano: 2015
Editora: Autonomia Literária

Gênero: Social, Político

Informações adicionais:
Número de páginas: 128
Tipo de diagramação: abres com uma página negra frete e verso com o título do capítulo em branco, diversas fotos de ocupações
Cor das páginas: amarelada
Fonte: com serifa, agradável para a leitura e tamanho satisfatório
Capa: brochura fosco, com orelhas laterais


Sinopse: 
Fruto da experiência de Guilherme Boulos durante os anos de militância no MTST, Por que ocupamos? sistematiza informações e pontos de vista que deveriam ser de conhecimento obrigatório para quem se propõe a discutir a questão habitacional brasileira. Aqueles que se limitam a ofender os sem-teto devido às ocupações de prédios e terrenos, antes de sequer ouvir seus motivos, encontrarão neste livro um desconhecido e surpreendente território a ser desbravado pela reflexão. Leitores já familiarizados com os movimentos sociais terão a oportunidade de consolidar posições e fortalecer argumentos - pré-requisitos para fazer avançar a luta pela moradia, cada vez mais necessária frente aos abusivos preços dos aluguéis e crescente déficit habitacional nas grandes cidades do país. Esta edição especial conta com fotografias do coletivo Mídia Ninja.



 Nota:



Resenha:

Guilherme Boulos ficou mais conhecido nacionalmente em 2018 quando concorreu a presidência da república pelo Psol ao lado de sua vice, a líder indígena, Sônia Guajajara. E ela, só para pontuar, que ficou conhecida em 2014 pela "afronta" de entregar o prêmio "Moto-serra de Ouro" para a vice do também candidato a presidente de 2018, Ciro Gomes,  a controversa defensora da bancada ruralista Kátia Abreu (que nas entrevistas com as vices tentou dar uma florzinha para Sônia em sinal de "paz", mas não parava de criticar e atacar Guilherme Boulos via twitter durante os debates, mas sem marcá-lo, lógico, mesmo assim, nos intervalos ele deu algumas respostas bem memoráveis a ela).

Voltando a falar sobre Boulos. Professor de profissão e atuante em causas de movimento social, com papel de liderança. Ele não tem medo de se juntar ao movimento, de colocar a boca no mundo para reclamar as injustiças (e sempre muito bem fundamentado) e, infelizmente, é muito comum ver pessoas que não se interessam realmente sobre a situação habitacional do Brasil atacá-lo em suas redes sociais com comentários vagos e falas absurdas sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, ou MTST.

Eu, confesso, não sabia muito sobre o Movimento dos Sem-Teto em si, embora nunca tenha chegado ao ponto de achar e chamá-los de "um bando de vagabundos" como brandas muitos por esse país, e foi por desconhecer que me interessei em procurar matérias e obras que falassem a respeito do movimento, foi assim que encontrei este livro do Guilherme Boulos e mantive-me de cabeça bem aberta para ler a respeito, sem julgamentos e condenações prévias.

O livro em si é maravilhoso. Escrito de forma acessível e clara, pode ser lido tanto por pessoas mais novas quanto pelos mais velhos, já que ele baseia todas as informações em dados reais que podem ser pesquisados na internet (ou em acervos de Jornais físicos, caso prefira) para corroborar com o que ele fala. Há gráficos, estudos e pesquisas sobre a situação da moradia citadas e todas elas são bem colocadas e analisadas pelo autor. Além disso, há artigos da constituição e leis (enumerados para que você possa localizar e ler por si) para ilustrar os pontos analisados.

Mesmo curtinho, a quantidade de informação que se encontra no livro é enorme e útil para se entender sobre vários assuntos. Eu vou citar alguns, mas realmente recomendo uma leitura de mente e coração abertos para se entender exatamente sobre o que o autor fala.

No começo, ele explica como a política habitacional do país ainda não conseguiu ser totalmente eficaz no país. Não, ele não fica em criticas vagas, como uns outros candidatos fizeram, ele pontua e demonstra onde houveram os erros e o que poderia ser feito para consertá-lo. Ele começa explicando sobre a primeira tentativa de se fazer um projeto habitacional na Ditadura e o porque ele não foi eficaz,além de explicar qual era o verdadeiro objetivo dele e para quem ele de fato era voltado.

Depois, anos sem nenhum projeto para essa área, ele fala sobre o "Minha Casa, Minha Vida" dos  governos Lula/Alencar e Dilma e aponta também onde houveram erros nele e quais foram seus acertos, também, inclusive, esclarece o como quem lucrou com os projetos de fato foram as construtoras e imobiliárias que por conta de um contrato não muito eficaz com a Caixa Federal acabava pagando o mesmo para construções pequenas ou maiores serem construídas, mas a especulação imobiliária decidia como ganhar mais diminuindo a construção das casas e jogando-as em locais de difícil acesso, deixando áreas para serem valorizadas no caminho.

Mas, para explicar a situação da titularidade sobre as terras o autor vai ainda mais longe, voltando a 1500, na época da colonização, e explicando como as capitanias hereditárias criaram "donos" de terras (terras essa que na verdade deveriam ser do governo) e essa titularidade roubada dos índios passou a ser "dividida" apenas com poucas famílias que até hoje lucram muito.

O livro fala também sobre a grilagem de terras e explica de onde veio o termo e como os grileiros agem para fazer a falsificação de documentos que lhe deem "posse" de tais terras. E uma explicação muito consistente e prática sobre a diferença de "ocupação" e "invasão" (aliás, fique pasma ao descobrir lugares que realmente foram invadidos e por quem, pois Boulos dá nome aos bois e até Shoppings e locais destinados a Polícia e Juízes entram na lista).

Há informações também sobre como e porquê os trabalhadores com baixa renda são colocados cada vez mais longe dos centros urbanos, quando começou essa "limpeza nos centros" e essa separação de classes entre ricos e pobres. Explica também o motivo de "crescimentos desordenados" onde bairros são loteados distantes da cidade que já existe e os motivos por trás desses "terrenos ociosos" serem deixados ali e como vão lucrar com a valorização deles depois.

E, claro, como não poderia falta, há informações sobre como funcionam esse acampamentos sociais, a organização dentro deles e três narrativas de pessoas que fizeram parte deles e o que as levaram a isso. E, de fato, "não é bagunça" como costumam pintar na mídia.

Por fim, tenho que dizer que há tantas informações incríveis e valiosas nesse livro que não há como contar tudo para vocês, pois certamente eu acabaria esquecendo alguma coisa, já que a leitura me prendeu tanto que foi feita em um único dia, pois, literalmente, é um livro que não dá para se deixar para ler depois, pois ele parece nos chamar para prosseguir lendo.

Comentários

  1. Obrigada pela resenha. Se já estava com vontade de ler a obra, agora virou desejo rs

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