Livro: "O Silmarillion", de J. R. R. Tolkien

Livro: "O Silmarillion"
Título original: "The Silmarillion"
Autor: J. R. R. Tolkien
Organizado por: Christopher Tolkien
Editora no Brasil: WMF Martins Fontes
ISBN: 987-85-87-488-7
Páginas: 480




Informações adicionais:

* Tradutora: Waldéa Barcellos
* Ficção inglesa
* Páginas levemente amareladas
* Informações especiais, como árvores genealógicas, notas sobre a pronúncia das palavras em idiomas élficos, glossário e apêndices dos elementos que compõem os nomes nos idiomas quenya e sindarin.

Sinopse:

"O Silmarillion relata acontecimentos de uma época muito anterior ao final da Terceira Era, quando ocorreram os grandes eventos narrados em O Senhor dos Anéis. São lendas derivadas de um passado remoto, ligadas às Silmarils, três gemas perfeitas criadas por Fëanor, o mais talentoso dos elfos. Tolkien trabalhou nesses textos ao longo de toda a sua vida, tornando-os veículo e registro de suas reflexões mais profundas."

Avaliação:


Resenha:

"Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros escutavam, pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos."

Assim começa o "Ainulindalë", o primeiro dos livros que compõem o Silmarillion.
Breve explicação: o Silmarillion é composto pelo Ainulindalë, a Música dos Ainur; Valaquenta, o Relato dos Valar; Quenta Silmarillion, a História das Silmarils; Akallabeth, a Queda de Númenor; e os relatos Dos Anéis de Poder e da Terceira Era.
Os Valar, e abaixo, os Maiar
Logo de cara, podemos notar um"quê" de inspiração em figuras religiosas, como cristianismo e mitologia nórdica, grega e egípcia. Eru parece muito com a figura de Deus Todo Poderoso, criador do céu e da terra, o pai de todos. Abaixo dele, temos os Ainur, chamados Valar, os Poderes do Mundo. Esse seres parecem inspirados nos vários deuses antigos, pois cada um deles têm poder sobre algum aspecto do mundo: Manwë é o senhor dos ventos e Rei dos Valar (algo como Zeus na mitologia grega); Varda, a Senhora das Estrelas e Rainha dos Valar, governa a luz. Como não compará-los a divindades como Thor, o deus nórdico do Trovão, ou com Diana, a deusa romana da caça?

Outro aspecto que podemos notar é a presença de uma figura "escura", que traz inveja, maldade  e um grande desejo de poder. Nesta obra temos Melkor (posteriormente chamado Morgoth, o Sinistro Inimigo do Mundo), que desde o princípio da criação queria se fazer sobressair aos outros, curvá-los à sua vontade. De cara, esse personagem me remeteu a Lúcifer, o arcanjo que desafiou o poder de Deus e foi expulso dos céus.
Para complementar a minha visão acerca da inspiração em figuras das mais diversas crenças, temos também os Maiar, que são vassalos e auxiliares dos Valar. Pra mim, eles seriam como os anjos: seres belíssimos e poderosos, mas submetidos a um poder ainda maior.

Assim, nessa primeira parte do Silmarillion, temos uma visão da "Canção dos Ainur", a música sobre a criação do mundo e de tudo aquilo que haveria nele, quase como um plano magnífico sobre cada passo daquele momento em diante.

Em Valaquenta temos um visão mais esmuiçada dos personagens tratados acima. Compreendemos melhor os Valar e seus poderes, e a arrogância e força de Melkor em sua rebelião.

Quenta Silmarillion trata de tudo com uma riqueza de detalhes impressionante. Confesso que precisei ficar sempre com caderno e caneta por perto enquanto lia, para anotar toda informação que julgasse imprescindível. Terminei com várias páginas de anotações (mas nem de longe informação suficiente!) que ainda preciso organizar.

Enfim, voltando à estória, descobrimos sobre o início dos tempos em Arda e do trabalho dos Valar para preparar o mundo para a chegada dos Filhos de Ilúvatar ( os Primogênitos, raça dos elfos e os Sucessores, raça dos homens). Curiosamente, os anões não fazem parte do plano original de Eru. #chocada! O Valar Aulë, governante de todas as substâncias da terra, ferreiro e mestre é o criador dos Sete Pais dos Anões, "pois tão grande era o desejo de Aulë pela vinda dos Filhos, para ter aprendizes a quem ensinar suas habilidades e seus conhecimentos, não se dispôs a aguardar a realização dos desígnios de Ilúvatar." (página 39) Aliás, o trecho sobre a criação dos anões é um dos meus preferidos em todo o livro! Talvez porque eu ame Thorin Oakenshield e tenha ficado encantada com as origens do povo de Dúrin... Talvez! kkkkkk

Outra coisa interessante é que os "ents", os Pastores das Árvores, foram criados por Yavanna para proteger as suas criações dos machados ferozes dos anões.

E isso tudo é apenas o começo! A chegada dos Primogênitos à Terra Média é ricamente descrita, assim como a posterior convocação feita pelos Valar para que os elfos se reunissem em Valinor e a condenação de Melkor a três Eras de confinamento na fortaleza de Mandos.

Seguindo-se a esses acontecimentos, vemos a primeira divisão entre os elfos e a formação de seus diversos povos, cada qual guiado por um rei; mas ainda assim, todos submetidos ao Rei Supremo dos elfos, Ingwë.

A cisão dos elfos e alguns nomes dados aos grupos

De Finwë, o rei dos Noldor, descende Fëanor, Espírito de Fogo. Diz-se que "em todas as partes do corpo e da mente, em valentia, em resistência, em beleza, em compreensão, em talento, em força e em sutileza, no mesmo grau, Fëanor havia sido o mais poderoso de todos os Filhos de Ilúvatar, e nele ardia uma chama brilhante." (página 115) De suas mãos nasceram as Silmarils, três magníficas pedras preciosas que traziam dentro de si a luz das Árvores de Valinor. E a partir da criação dessas gemas, toda a história de Arda e da Terra Média seria escrita.

As árvores de Valinor:
Telperion, a árvore prateada & Laurelin, a árvore dourada
Desse ponto em diante, temos a libertação de Melkor, o roubo das Silmarils, o juramento de Fëanor e seus filhos e, subsequente, desgraças e o retorno dos noldor para a Terra Média. Passamos por Thingol e Melian (ele um elfo e ela uma Maia), senhores de Doriath e dos sindar; a criação do Sol e da Lua, vindos dos frutos das Árvores de Valinor; o aparecimento da raça dos Homens, os Sucessores; do surgimento de Beleriand e seus reinos, terra dos noldor; o crescimento do poder de Morgoth; o amor de Beren e Lúthien (ele da raça dos homens e ela uma princesa élfica); os filhos de Húrin, senhor de Dor-lómin: Túrin Turambar e Nienor Níniel e seu fim trágico; Eärendil e a queda de Morgoth a Angband; até o retorno das Silmarils aos seus antigos lares, "uma no ar dos céus, outra no fogo do centro da terra, e a outra nas profundezas das águas." (página 323)

Com o fim (por assim dizer) da história das Silmarils, temos a descrição do surgimento de Andor (a Terra da Dádiva, também chamada Numenorë), lar dos grandes reis entre os homens. O primeiro rei de Númenor foi Elros que, diferente do irmão Elrond, escolheu a Casa dos Homens e a mortalidade.

* Explicação rápida: Elrond e Elros possuem descendência mortal, noldorin e maiar. Foi-lhes dado o poder de escolher seu próprio destino. Assim, Elrond preferiu ficar entre os Primogênitos e Elros optou por ser um Rei dos Homens.
Acompanhando o reino de Númenor e seus soberanos, vemos a convocação de Sauron (servo de Morgoth) até o reino dos numenorianos e o estrago que sua presença maligna causou; a queda de Andor e a crianção dos reinos dos Homens na Terra Média, como Andor e Gondor.

Temos ainda um vislumbre da criação dos Anéis de Poder (Nove para os reis dos homens, Sete para os senhores dos anões, Três para os altos elfos e o Um, para a todos governar!); o surgimento dos Uláiri, os Nove Espectros do Anel; a fundação da fortaleza de Imladris por Elrond Meio-Elfo, chamada pelos homens de Valfenda (no original, Rivendell); e o aparecimento dos istari, os Magos: Mithrandir, Curunir (aka Gandalf e Saruman!) e Radagast.

Mas, apesar desse texto estar longo, não é possível captar nem um décimo da riqueza dos detalhes e da narrativa fantástica dessa obra. O Silmarillion não é apenas mais um livro de fantasia. Ele trata da criação de um mundo completamente novo, com eras e mais eras de história, repleto de traições e guerras, mas também com boas doses de coragem, superação e romance. Não é um livro para ser apenas lido, mas uma obra para ser estudada e analisada com calma e carinho.




Comentários