Livro: "O Veterinário de Deus" por vários autores

Título: O Veterinário de Deus e outras histórias que emocionam

Autores: Dauny Fritsch, Donizette Pinheiro, Isabel Scoqui, Lúcia Cominatto, Ricardo Orestes Forni, Rubens Toledo e Zélia Carneiro Baruffi

ISBN: 978.85.9544.054-8
Ano: 2018
Editora: EME

Gênero: Contos

Informações adicionais:
Número de páginas: 152
Tipo de diagramação: cada conto tem uma imagem que o ilustra anteriormente e são quase que como desenhos infantis e preto e branco (muito similar a capa)
Cor das páginas: amarelada
Fonte: com serifa, agradável para a leitura e tamanho satisfatório, espaçamento muito bom
Capa: brochura fosca com detalhes brilhantes e orelhas laterais


Sinopse: 
Os grandes autores espíritas nos fazem entender, através de seus textos, que somos todos seres encarnados, de passagem pela Terra. Este livro reúne autores da EME em contos emocionantes e inéditos que falarão ao espírito de cada um, trazendo luz aos leitores e perpetuando emoções aos corações e mentes.



 Nota:




Resenha:

Confesso que aconteceu uma decepção muito grande com a leitura deste livro. Pela capa eu supunha serem contos com animais como tema, o próprio título reforça esta impressão. Mas a grande verdade é que não houve muito critério em se determinar um "motivo" para reunir tais contos, já que cada um deles remete a situações distintas e pertencem a vários autores.

Aliás, a sinopse diz que são "alguns dos maiores autores" da editora, mas a qualidade e a profundidade da narrativa de cada um dos contos deixa muito a desejar. Alguns tiveram ideias até interessantes, mas a execução é de um total amadorismo que contos nos sites de "fics" da vida podem ser até melhores avaliados.

Uma pena, pois foi um livro que tinha tantas expectativas para ler, mas os desenvolvimentos das tramas deixaram muito a desejar e pelos critérios de avaliação do blog a nota...

1 - "Amor e cruzada: um conto da Idade Média" por Donizete Pinheiro: 

Um rapaz muito católico e dedicado a Deus se apaixona por uma moça nos tempos das cruzadas, mas antes que eles se casem ele precisa partir em guerra e não volta. Ela prometeu esperá-lo e morre de tristeza ao não vê-lo voltar. Agora, eles tem nova chance para viver esse amor, mas por ela não ter casado na vida passada tem como castigo não poder ter filhos.

Essa vertente de alguns autores espíritas (na maioria homens) tem de tratar mulher como a única culpada de tudo e fazer dela uma eterna culpada e digna de sofrimento não condiz com o espiritismo, mas é tão usada que já está dando nos nervos, sabe?

2 - "Visitando Nosso Lar" por Isabel Scoqui: 

Sim, o nome da autora e da protagonista são os mesmos, mas não há nenhuma menção de que seja um tema auto biográfico, mas se diz inspirado em um livro psicografado por Chico Xavier.

Na trama, Isabel, mesmo após ficar viúva, continua reencontrando seu marido. Juntos eles fazem cursos no astral e ela segue, mesmo com grandes dificuldades financeiras, trabalhando com seu centro espirita familiar na Terra.

O conto é um dos mais bonitinhos do livro, porém faltou um pouco de foco nos propósitos do desenvolvimento (e digo isso por ter lido "Os Mensageiros" que é o livro no qual ele teoricamente se referencia). No começo a mulher está indo fazer cursos no astral, mas no final ela é mostrada como alguém que vive em pobreza com as filhas, o foco muda para a pobreza, ao invés de a pobreza ser só um "pano de fundo". A enfase começa sendo no quanto essa mulher é evoluída espiritualmente, mas ao invés de se optar por um desenvolvimento gradual que agregasse algo a isso, ele se perde em conjecturas de senso comum e a trama se torna vaga.

3 - "Espirito!? Deus me acuda!" Por Ricardo Orestes Forni: 

Um italiano e uma espanhola se casam no Brasil é tem 15 filhos. A mãe dele se da muito bem com a nora e comenta da vizinha benzedeira, mas a nora morre de medo de espíritos e mesmo sabendo que a vizinha é boa quer distância deles.

Esse conto é até que bem trabalhado, mas há algumas falas e quebras de cenas muito abruptas, situações em que a personagem sai de cena e parece que ela continua ali. Ou seja, no desenvolvimento faltou algumas descrições.

Eu já li outro romance do autor e a resenha dele está aqui. Também já tentei ler um livro dele sobre situações do dia dia, mas ele tem algumas ideias meio erradas (como culpar os pobres de serem pobres por "merecimento" e dar todas as glórias aos ricos como se eles "merecessem" ser ricos colocando de uma forma como se Deus achasse que os ricos são seres superiores), que me deixaram muito irritada e acabei abandonando. Definitivamente acho que não é um autor no qual eu vá insistir mais em ler.


4 - "O Estranho Sonho de Shane" por Zélia Carneiro Baruffi: 

Uma garotinha tão espiritualizada como se fosse uma adulta conversa com o espírito do homem que seu avô pintou em um quadro. E ela nem pode supor quem ele é.

Eu acho que é até bacana retratar as crianças como seres superiores a mentalidade que possuem em Terra acordadas, mas é problemático tentar adultilizar uma criança no dia a dia. Não que a autora tenha usado isso para o mal, já que a garotinha é alguém que nunca leu Kardec mas sabe aplicá-lo, o problema é que isso da margem para se tratar crianças em todos os campos como se fossem adultos e culpa-los por coisas que são obrigações dos pais lhe fornecerem para seu desenvolvimento.

5 - "O Veterinário de Deus" por Lúcia Cominatto: 

Confesso que fiquei a trama todo procurando um sentido para o título, mas ele é praticamente uma situação que não será abordada, é simplesmente o futuro da pessoa e a trama não vai chegar até lá no tempo em que se narra.

Duas meninas estão sozinhas em uma casa rural esperando a mãe voltar. A força cai e uma chuva despenca. Logo um choro lá fora chama a atenção das crianças. Após a chuva passar, elas acabam encontrando uma criança e a recolhem, querendo "ficar com ele".

A forma como a mãe reage a situação é algo pavoroso: ela diz as filhas que se elas quiserem ficar com a criança vão ter que se responsabilizar por ela, lavando totalmente as mãos. Até ao posto de saúde ela fala que as crianças (que não tem nem dois dígitos na idade) vão ter que levar e correr atrás de documentos para a adoção. Em muitos momentos parece que a mulher está mais se referindo a um animal de estimação e não a uma criança. Honestamente, eu tenho medo desse tipo de "cristão".


6 - "O Carpinteiro de Nazaré" por Rubens Toledo: 

É mais ou menos um resumo da vida de Jesus (sendo chamado algumas vezes de Jeshua), mas onde todos tem falas em português coloquial e apenas ele em erudito. É bem estranho, na verdade.

A ideia tinha tudo para ser uma "releitura" de Bíblia de forma menos formal e mais atrativa para pessoas mais jovens e certamente soaria como um incentivo para que se lessem a obra original. Mas falta um desenvolvimento mais conciso, pois as situações aparecem "jogadas" e não parece ter ligação entre um ato e outro. Além de os irmãos de Jesus acabarem por soar como o Loki da Marvel.

Já li outro romance do autor, aliás existe até a resenha aqui, mas confesso que também não me agradou por conta da falta de pesquisa para se fazer um bom desenvolvimento da trama. Parece mais um amontoado de senso comum e isso acaba sendo bem triste e afastando os leitores ao invés de aproximá-los.

7 - "Diário das Sombras" por Dauny Fritsch:

O conto começa com ares de conto de terror, mas a narrativa é um pouco confusa. Um homem de posses engravidou uma camponesa, ela não está bem e pede para que ele fique com a criança. Ele aceita, mas leva a criança dela e a abandona na floresta. Acontece que essa camponesa o seguiu e morreu mantendo quente o corpo de seu filho que posteriormente é resgatado.

O gesto da mãe foi bonito e tudo, embora tenha sido usado como uma "remissão por ela abandonar o filho". A problemática é que parece que só as mulheres merecem castigos por abandonar seus filhos segundo alguns autores espíritas, já os homens vivem do perdão e está tudo certo.

Creio que faltou um desenvolvimento melhor na trama, pois vários trechos são confusos demais. Como a autora é uma senhora de mais de 90 anos, parece ter faltado sensibilidade da editora em ter escolhido alguém para fazer uma leitura critica e auxiliá-la antes da publicação. Aliás, não há um organizador da obra, o que ajuda a fazer com que os contos não tenham sido previamente avaliados e trabalhados.



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