Livro: "Contos de Piratas" de Arthur Conan Doyle

Título: Contos de Piratas
Autor: Arthur Conan Doyle
Organizador: Eduardo San Martin
Tradutor: Eduardo San Martin

Editora: Hedra
Ano de publicação: 2011
ISBN: 978-85-7715-252-0
Gênero: Contos, Crime, Pirata, Pirataria

Informações adicionais:
Número de páginas: 120
Tipo da diagramação: simples, com letras um pouco maiores nos títulos e informações adicionais nos rodapés
Cor das páginas: amarelada
Fonte: agradável a leitura e de tamanho satisfatório




Nota:


O escocês Arthur Conan Doyle pode ter ficado mais conhecido por seus contos do detetive Sherlock Holmes e (em uma proporção um pouco menor em dias atuais) do professor Challenger. Mas a obra dele é extremamente vasta e contam com estórias de terror, suspense, romances, ensaios jornalísticos, entre outros temas variados.

Este livro nasceu de uma compilação de contos sobre pirataria lançado como livro feito inicialmente em 1922. Nos contos, está em voga a figura do pirata cruel, sanguinário; aquele tipo que saqueava navios para retirar tudo que havia de mais valioso, matava sua tripulação e o afundava, para não serem perseguidos ou reconhecidos.

Este tipo nasceu tardiamente, quando os piratas não mais agiam de forma “legal” (ou seja: roubando a mando do rei), pois tratados entre os países não mais permitia a coleta de “espólios” de guerra.

Ao todo são seis contos no livro, quatro deles protagonizados pelo terrível Capitão John Sharkey (pirata fictício, mas criado pelo autor com base em piratas reais); um conto uma esquadra que sai a caça de um navio pirata a mando da Inglaterra; e, o último sobre um homem da lei que usa seus próprios métodos contra um “ladrão rico”.

Fora isso, há uma interessante biografia sobre o autor e algumas mini biografias de piratas reais, que certamente serviram de inspirações nas criações dos personagens sanguinários destes contos. Outras adições muito bem feitas pelo tradutor são as notas de rodapé, que ajudam até mesmo a pessoas que não entendem nada sobre navegação (como essa que vos escreve) a situar-se nas estórias e entender o que se passa.


Capa, miolo e informações adicionais:

A capa chama a atenção, principalmente de crianças que gostam de contos de pirataria (porém, papais e mamães, eu particularmente não indicaria este livro para crianças, pois há cenas de torturas e assassinatos levemente detalhados, mas que podem impressionar).

Os desenhos dos piratas e as imagens de navios, algumas ganhando uma camada alaranjada e estando presentes na parte traseira e nos rodapés, são bem trabalhadas. Não sei quem são os desenhistas das imagens, mas o trabalho de Ronaldo Alves (o capista) ficou extremamente bom a meu ver.
capa, contra capa, lombada e orelhas

sumário
O miolo do livro é em papel amarelado, o que ajuda muito na hora da leitura, pois não deixa a vista cansada. Só preciso fazer um adendo aqui: eu comprei este livro usado (embora ele apareça no catálogo da editora (https://www.hedra.com.br/livros/contos-de-piratas), não achei nenhum site que o vendesse antes... mas claro, depois que comprei agora até a editora vende... Coisas da vida!

Então aconteceu que ele veio com cheirinho de mofo e minha alergia me fez ler menos páginas que eu gostaria por semana... O que é uma pena, pois por se tratar de um livro curto é fácil de ler em um ou dois dias de ócio tranquilamente.

E, tem mais ainda, quando eu já estava lendo as informações finais, fiz a besteira de derrubá-lo na pia do banheiro com a torneira aberta (sim, caros amigos, infelizmente isso acontece com uma frequência bem grande comigo, pois sou daquelas que lê até no semáforo, imagina no banheiro então!) o que vai deixar as minhas páginas nestas fotos com o topo “marcado e com aspecto estranho”, mas a obra não é assim não, ok? Foi a gênia aqui que fez esta arte.

abre dos contos
O livro tem um sumário e um apêndice, o que é bem bacana por se tratar de uma obra de contos. Afinal, veja só, você pode querer ler um conto especifico novamente e tem como consultar a página no inicio sem problemas. Já o apêndice, conta com as informações biográficas ao final da obra (e embora existam alguns erros de digitação nas informações sobre os piratas, a ideia foi muito boa e bem executada, servindo como um bônus bem vindo).

No abre dos contos os títulos ganham um destaque em negrito e algum espaçamento, o que também colabora com a localização e demarcação dos contos.

O tradutor tomou o cuidado de traduzir os termos náuticos e de grande relevância para os leitores, permitindo que até “marinheiros de primeira viagem” (olha o trocadilho) em estórias de piratas (como euzinha) não se sentissem perdidos durante a leitura.


Resenhas:

Embora boa parte do livro seja dedicada ao capitão pirata, os contos não seguem realmente uma sequência cronológica e não precisam ser lidos na ordem. Afinal, sinto informar que em alguns momentos o conto anterior é totalmente ignorado pelo autor.

Mas para quem já leu outros livros de Arthur Conan Doyle isso não é surpresa. Equívocos é uma coisa um pouco constante em suas obras e um dos casos mais marcantes está justamente no conto de seu personagem mais famoso: Sherlock Holmes. Afinal doutor John Watson se casa com Mary, uma moça órfã de pai e mãe, mas alguns contos depois: está lá o bom doutor contando ao detetive que a esposa está na casa “da mãe”... Tsc, tsc... Essa desatenção do autor fez muita gente criar teorias de que a mulher morreu e o médico casou de novo. Pobre Mary, morta por um equivoco...

1° “Capitão Sharkey e a volta do governador de Saint Kitt’s para casa”

O primeiro conto do livro chama-se “Capitão Sharkey e a volta do governador de Saint Kitt’s para casa” (a maior parte dos contos deste livro tem de nomes enormes, não se assustem). Embora seja o conto de “estréia” do pirata, aqui ele já tem uma “fama ruim notória”.

O governador está em uma cidade costeira e quando um navio mercante chega, fica incumbido de levá-lo junto consigo. O capitão não quer esperar muito e pretende sair nas primeiras horas do dia seguinte, mesmo que a cidade esteja comemorando a caça do pirata Sharkey e pretenda enforcá-lo, ele sabe que permanecer muito em um porto não é bom.

O governador vai para junto do barco sem pestanejar, mas como queria saber quando queria receber um sinal depois que o pirata fosse enforcado, pede para que tiros de canhão sejam disparados. Eles estão a alguma distância quando isso acontece, pois o enforcamento também fora marcado para as primeiras horas do dia, mas podem ouvir os disparos.

A travessia se mostra tranquila, mesmo sendo um idoso debilitado, o governador é ativo no jogo e logo cria amizade com o capitão e demais marinheiros. Tudo parece relativamente bem, até que o governador revela não ser quem eles estão esperando. Logo a cortesia muda e o mundo se mostra um lugar bem mais sombrio.

2° “As transações do capitão Sharkey com Stephen Craddock”

Este segundo conto é mais focado em Stephen Craddock, um homem com um passado ruim, cheio de pecados, manchas e podridão. Renegado pela própria família por seus atos, com o tempo a luz da razão o fez mudar de lado e passar a ser uma pessoa melhor.

A busca por sua remissão é grande, tão grande que o ex-pirata, agora um homem de negócios riquíssimo e integro, coloca-se a disposição do governador para capturar o pirata Sharkey e livrar os mares de sua terrível figura.

Ele tem um plano, pois sabe que a barca do capitão pirata, a Happy Delivery (irônico, não?), em uma barca “gêmea” e decide usá-la para enganar o inimigo, induzindo-o ao erro.

Ele explica ao governador que o pirata costuma aportar em um local e enquanto sua barca é retirada do mar e o que está grudado em seu casco é limpo (para garantir que o navio continue veloz), ele vai para uma ilha caçar. A ideia é chegar antes do navio pirata e esperar que o capitão suba a bordo por livre e espontânea vontade.

Bem, mas será que um pirata é uma figura assim tão fácil de enganar?

3° “A ruína de Sharkey”

Este conto dá ares de final da linha ao pirata, mas como se pode ver, no conto seguinte o pirata está vivinho da silva e cuidando de seu navio como se nada tivesse acontecido. Viram só como o Arthur é uma pessoa esquecida? Vão continuar achando mesmo que a Mary morreu? Hmmm, pois bem, retomando.

O conto três, “A ruína de Sharkey”, começa com os piratas se amotinando e decidindo que querem destituir o capitão de seu comando. Eles alegam, mediante o seu representante, que o pirata não os trata com respeito (sim, pode rir, porque eu ri com a reivindicação, é quase que uma política sindical em uma instituição do roubo, ehehehe), que não recebem um único elogio pelos serviços prestados e que há dias não conseguem saquear um navio que valha a pena.

A discussão segue acalorada entre o “representante dos amotinados”, o pirata e seus mais “altos funcionários”, quando são avisados de que um navio está próximo. No mesmo instante eles esquecem as picuinhas e correr saquear o tal navio.

Após matar quase todas as pessoas da embarcação, deixando o capitão por último, e atirando-os no oceano após cortar suas pernas (sim, eu disse que a coisa era violenta para menores de idade, eu não estava mentindo). Descobrem antes de jogar o capitão ao mar que uma moça está trancada em um local no navio e, mesmo desconfiando, decidem procurá-la.

Realmente há uma mulher lá e eles a levam para o navio pirata, mas como Sharkey a reivindica para si, os amotinados logo decidem voltar as “reivindicações”, porém, desta vez, por conta de uma doença que a moça tem, eles decidem deixar o pirata a deriva junto com ela.

Sim amigos, eu disse que esse conto dava ares de final da linha e apenas ele eu decidi contar seu fim, mas leiam-no, pois ele é cheio de detalhes e é bem engraçado ver que piratas estavam em “greve”, chega a ser irônico o fato de uma “instituição” criminosa de séculos atrás estar praticamente reivindicando coisas que as pessoas comuns o fazem hoje. Seriam esses amotinados uns visionários? ;D

4° “Como Copley Banks matou o capitão Sharkey”

E agora, amigos, a prova do relapso de Arthur Conan Doyle, está aqui: Sharkey vivinho da silva, em sua própria barca, como se nada tivesse acontecido.

Em “Como Copley Banks matou o capitão Sharkey”, temos mais uma tentativa de se livrar do pirata. Desta vez, o homem era alguém realmente honesto, Copley Banks, que perde sua mulher e filhos por conta do pirata. A estória desta família é triste, e é em resumo assim. Banks tem uma firma importante e não pode buscar seus filhos no colégio interno no exterior, por conta disso, quem faz a viagem é sua esposa. Na volta para casa, porém, o navio é interceptado por Sharkey e sua tripulação e... Bem, o final deles só pode ter sido o mesmo do outro barco...

Banks perde o interesse pela vida, decide beber e passa a frequentar locais que nunca esteve antes. Em pocilgas lotada de piratas, ele vai em busca de descobrir os detalhes de como sua família foi morta. Isso só serve para que homem crie mais e mais raiva de Sharkey e acabe se aliando a um ex-pirata do capitão.

Ele pega um barco de sua empresa, enche de armamentos e maus elementos e decide tornar-se ele mesmo o terror dos mares. Uma pessoa chega até a questionar isso e a pedir que ele seja parado, mas nada é feito e logo Banks se torna um capitão pirata tão cruel e temível quanto Sharkey, chegando a fazer amizade com o pirata e a saquear barcos juntos.

Sim, caros amigos, você chega a questionar se o homem pirou mesmo de vez ou se há alguma coisa ali que nós não estamos captando direito. Mas será que a perda de entes queridos pode mudar uma pessoa tanto assim? Ou a vingança é um prato que se come mesmo frio?

5° “O Slapping Sal”

O quinto conto é sobre o como uma esquadra inglesa enfrentando navios piratas. Para ser bem sincera, eu fiquei a todo o momento esperando que o capitão Sharkey desses as caras, pois só depois percebi que este conto não o traria (no fim, quando não havia mais nenhuma outra chance, né?).

A luta entre canhões é bem descrita aqui e tudo mais, e é bem diferente o como um monte de ingleses polidos dão e recebem ordens em comparação aos piratas que até então estávamos acompanhando.

Mas após tanto tempo “andando com os caras maus”, a gente acha esse pessoal polido e certinho menos interessante que eles... De todos, acho que esse conto acabou sendo o mais fraquinho, não que ele seja ruim, mas foi o que menos marcou de fato os acontecimentos para mim (tanto que para resenhar tive que relê-lo, ehehe).

6° “O pirata de terra firme – uma hora movimentada”

O conto que fecha o livro tem uma temática bem diferente e também é um dos mais bacanas. Para ser bem sincera, eu acho que ele não combina muito com o tema pirataria, já que o protagonista acaba sendo um ladrão e nada mais, porém, ele é fortemente o conto mais interessante de todos e foi o meu preferido.

A noite um mecânico está passeando por uma estrada escura e é assaltado, o ladrão muito polido, aliás, deixá-lo a pé após retirar sua carteira, seu relógio e deixar seu carro avariado.

Seguimos acompanhando o gatuno, que faz novas vítimas após o senhor inicial. Desta vez, ele para um carro com motorista e duas atrizes de teatro, que não sabem se estão mais excitadas pela publicidade que o roubo poderá causar em suas carreiras ou pelo ladrão parecer tão educado.

E ele para aí? Certamente que não! Após deixar as atrizes, ele segue para fazer sua última vítima. Desta vez sai de cena aquela pessoa polida e cortes, e um ladrão cruel entra em cena. Ele não apenas rouba um homem muito rico, mas o humilha deixando-o quase nu.

Mas tudo tem um propósito, as pessoas assaltadas antes eram boas pessoas e mereciam deferência, já o último era rico, porém escondia-se muita sujeira por baixo de sua estória de vida.

O ponto mais alto da trama vem após tudo isso, quando o mecânico acaba nos levando até o gatuno e o próprio, uma pessoa com um emprego que deve lutar manter a ordem e a justiça, explica exatamente o porquê fez isso e para quem. Sem duvida, um dos contos mais bacanas do livro.



Comentários

  1. Esse livro é realmente um dos melhores na temática de aventuras de piratas.

    Para todos que gostam destas aventuras, recomendo o livro "Contos e Encontros Piratas" lançado esse ano.

    Trata-se de um livro de ficção, com 12 contos em que os personagens piratas passarão por situações inusitadas que misturam o real com o sobrenatural, história com ficção e o palpável com o intangível. Os contos tem como cenário o litoral brasileiro, tornando a leitura muito mais prazerosa e interessante, pois o leitor pode se identificar com os locais citados nas histórias.

    Para saber mais sobre o livro e seu autor, basta acessar: bussoladospiratas.blogspot.com.br

    Grande abraço!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário