Ebook: "O Mistério das Fadas" por Arthur Conan Doyle

Título: O Mistério das Fadas

Título Original: The Coming of the Fairies

Autor: Arthur Conan Doyle

Tradutor: Eduardo Caamaño

ASIN: B01CF5XLDA

Ano: 2016

Editora: Denied Books

Informações adicionais:

Número de páginas: 142



Sinopse:
Embora pareça surreal, esta obra não é de ficção. “O Mistério das Fadas”, publicado em 1922 conta a história de duas jovens de um pequeno vilarejo britânico que ficaram famosas após conseguirem captar a imagem de fadas em uma série de fotos que receberam grande destaque da imprensa da época e atraíram a atenção de sir Arhur Conan Doyle, o criador do famosíssimo detetive Sherlock Holmes e ardente defensor da doutrina espirita e do sobrenatural. Fascinado com as imagens, Conan Doyle não só as tomou como verdadeiras como também deu início a uma verdadeira campanha para legitimá-las entre a opinião pública, recopilando testemunhos de pessoas que haviam vivido experiências similares e submetendo o material para análise nos laboratórios fotográficos mais importantes da Londres. A polêmica estava servida, dividindo a sociedade britânica e transformando para sempre o outrora pacato vilarejo das meninas no foco de atenção da imprensa e no destino de milhares de curiosos. 
Traduzido por primeira vez ao idioma português, este livro inclui um interessante epilogo que ajudará o leitor a compreender o contexto da época e as circunstâncias que levaram a um dos autores mais importantes da história contemporânea a investir meses na criação de um profundo estudo dedicado a um acontecimento que, segundo descrito por ele mesmo, “constituirá um marco fundamental na história da humanidade”. O tradutor também faz um seguimento do caso e revela o desenlace final de este insólito episódio que ainda gera certa polêmica até os dias de hoje.


Nota:


Resenha:

Creio que esse livro não tenha saído em formato físico em português (pelo menos não no Brasil) até os dias hoje. Aliás, muitos livros do autor nunca saíram por aqui em versões portuguesas para a leitura, o que é uma grande pena. Nenhuma editora aí se interessaria em lança-los, não? Seria tão maravilhoso ler todas as obras do autor em físico, sabe? Meu sonho.

Enfim, como nunca encontrei físico, quando o encontrei em versão e-book achei que era uma boa oportunidade para ler este livro. Afinal, ouve-se falar tanto e sempre tão mal dele, que eu tinha uma curiosidade tremenda para saber o que cargas d'água ele falou de tão estapafúrdio assim para criar uma ira contra ele que perdura até hoje. Aliás, chega a ser bem "tonto" ver tanta gente se achando gênio e criticando o autor, sem levar em consideração nada mais que ele tenha escrito. Então este era um livro que me causava mesmo muita curiosidade.

Porém, infelizmente, já preciso começar fazendo uma critica a edição pois ela peca na ausência de acentos circunflexo nas palavras. Circunstância, distância, importância, e todas as palavras que deveriam ser acentuadas (com exceção de "você", pois essa lembraram de acentuar) não foram acentuadas na obra toda. Aliás, a palavra "porém" aparece em situações com acento agudo e em outras sem acento. Seria de extrema importância alguém dar uma arrumadinha nisso.

Voltando ao ponto da minha curiosidade que me fez tanto querer ler a obra. Eu sempre ouvi que "se ele é espírita, então ele acredita em fadas" como se fosse desculpa perfeitamente plausível, mas nunca fiquei muito convencida. Afinal, os espíritas não acreditam em fadas, duendes, gnomos, fantasmas e afins. As pessoas sempre alegam que ele crer na vida da alma após a morte do corpo era algo que o tornava um "imbecil" e propício a ser enganado. Mas essas mesmas pessoas vão na missa de domingo ou no culto de noite e acredita que após a morte o espírito fica lá aguardando o juízo final deitadinho. Ou seja, hipocrisia criticarem o cara já que no final também não acham que "morreu acabou". Certo?

A obra é dividida em nove capítulos e posteriormente trás um "extra" apenas desta versão, trata-se de uma "análise" escrita pelo tradutor com base no que ele leu do texto e (creio) alguma pesquisa sobre o assunto das fadas. Eu vou falar inicialmente sobre a obra do Doyle em si antes de fazer algumas considerações sobre essa "análise", ok? Afinal, ela me chamou muito a atenção por ignorar certas coisas que estão bem visíveis no texto original.

Arthur começa a obra narrando que foi graças a uma amiga, que o escreveu, que soube sobre o caso de duas primas que haviam "visto e fotografado fadas e duendes" em uma cidadezinha interiorana da Inglaterra. Ele conta que foi meio cético no início, mas acreditava na palavra de testemunho desta amiga de que haviam sim tais fotos. Que inicialmente ele acreditava que poderiam ser manipulação até que ele mesmo as viu e levou para serem analisadas por laboratórios de fotografia (entre eles a Kodak, só para se ter uma ideia de como a marca é antiga pra caramba!).

Creio que a pergunta feita a esses estúdios fotográficos não foi exatamente a ideal e foi exatamente o que acabou causando toda a confusão depois, pois ele alega que havia confirmações sobre a veracidade das fotos e tal. Doyle e Gardner, um cara influente na época no ramo da Teosofia, começaram a trocar cartas e questionaram os fotógrafos dessas casas experientes de fotografia quanto ao fato de: se havia alguma manipulação na imagem (ou seja, imagens sobrepostas) ao invés de perguntar se haveria como forjar aquilo com papel, um vidro pintado ou algo assim.

Claro que, para essas empresas, não havia mesmo dúvida de que era uma imagem só e sem sobreposição. Afinal, era necessária uma certa técnica para "sobrepor" imagens e ela era complicada de se fazer na época (já que a fotografia era algo caro e recente). Sem contar que, o resultado sempre deixava a desejar, pois não era como abri um programa de manipulação de imagens e trabalhar nela. Era necessário tesoura, paciência, colar as duas na melhor forma possível e se bater uma foto da foto, o que diminuía a nitidez e causava alguns pontos de luz facilmente distinguíveis. Aliás, nem é explicada essa manipulação de imagens no livro, eu só estou esclarecendo porque estudei a história da fotografia no meu curso de jornalismo, ok? É mais a título de curiosidade mesmo.

Voltando. O fato de a imagem não ser uma "montagem" foi encarado por Doyle e Gardner como uma prova de que era real. Os laboratórios não tinham dito que eram reais, eles apenas haviam dito que não houve manipulação, entenderam? Ou seja, toda a confusão nasceu aí, de um grande e grave problema de comunicação e interpretação mesmo.

Doyle era do tipo de pessoa que acreditava muito da "moral" das pessoas. Ele era do tipo que não tinha preguiça de levantar a "ficha pessoal" de qualquer um, mesmo que tivesse que conversar com amigos, empregados, conhecidos e afins. Para ele a "honestidade moral" era algo que poderia ser a garantia de que a pessoa ou seus parentes "nunca mentiam sobre nada". Logo, se os pais daquela menina eram vistos como pessoas corretas, ele supôs mesmo que as meninas nunca mentiriam. Aliás, chega a ser louvável essa fé nas crianças que ele tinha, logo ele que foi pai de quatro. Acho que os filhos dele nunca mentiam mesmo ou eram muito bons nisso e nunca foram pegos, eheheh.

Após a "confirmação" das empresas fotográficas, ele procurou seus conhecidos espíritas. A primeira pessoa a dar seu parecer sobre a foto é denominada de Lancaster, um médium, mas ele parece ter "inventado o nome" para proteger a identidade da pessoa, já que ele  diz "vamos chamá-lo de Lancaster". Esse senhor (que eu suponho que seja homem) o escreveu em retorno e disse que seu guia espiritual (que vem a ser o espírito que mais frequentemente conversa com o médium e o auxilia) diz que as imagens foram feitas por uma pessoa "x" (não vou falar quem, porque assim perderia a graça para vocês lerem, eheheh) e descreve como essa pessoa é.

Nota-se que a descrição não é de uma criança, muito menos de uma mulher, mas Doyle toma ela como sendo a mesma do pai da menina (que colocou "a chapa fotográfica" na máquina) e a de um dos técnicos fotográficos que a ampliou. Ou seja, o próprio conhecido espírita dele já o advertiu que aquilo não era o que parecia não, mas o que ele fez? Ele simplesmente concluiu que o guia espiritual tinha "visto a coisa errada" e não o momento em que as meninas tiravam as fotos.

Daí para frente Doyle tratava frequentemente com Gadner, que tomou a maior parte da investigação, e com o "honesto e confiável" pai de uma das meninas. O pai, é claro, garante que a filha e a sobrinha não mentiram, que ele mesmo tentou descobrir a veracidade das fotos a princípio, embora não quisesse divulgá-las. Doyle descreve a mãe apenas como alguém que o contou o ocorrido das meninas tal qual ele já havia lido nas cartas de sua amiga e de Gardner (lembre-se disso, ok? Pois na análise do tradutor a história muda totalmente).

Deste ponto para frente, Doyle começa uma verdadeira saga para "provar a vida das fadas". Ele e Gardner chegam a dar outra máquina para as meninas com chapas fotográficas marcadas para evitar a manipulação (aquele processo ali que descrevi antes), sem levar em conta que a manipulação não era na imagem pronta, mas um hábil truque das meninas com papel e grampos. Ou seja, eram figuras em 2D mesmo, e podiam ser tocadas, logo, não precisavam trabalhar na foto pronta, apenas no cenário dela. Aliás, uma das empresas fotográficas até alega que poderia sim produzir tais fotos em estúdio, mas Doyle e Gardner não dão valor a essa alegação.

Através de artigos publicados, Doyle acredita de forma veemente que pode "provar" a existência de fadas e que essas fotos iniciais e outras que as meninas tiram posteriormente são a prova material de que o mundo feérico existe e que pode ser "mental", ou seja, é necessário uma projeção da mente de pessoas especificas para vê-lo e fotografá-lo. É por isso, aliás, que as meninas tiram as fotos das outras vezes sozinhas novamente, pois eles acreditam que a "aura de inocência das crianças" é o que atrai tais seres elementais. Ele chega até a descrever (e não só ele, tem até uma análise de um padre reproduzida no livro dando mais "detalhes") o como apenas a inocência das pessoas os atraem e o porque os homens adultos não podem ver tais seres.

Aliás, não todos os homens adultos "não podem ver", porque o Gardner acha um "militar médium" que diz que pode vê-las e até passa uma semana com as meninas vendo esses seres e os fotografando no bosque (embora não haja nenhuma foto documentada desta tal semana, o que chega a ser bem suspeito e eu me pergunto como francamente não chamou a atenção do autor, sabe?) O tal militar diz que ele e as meninas podem ver e descrever as mesmas coisas e que ele vê ainda outros seres que elas não podiam, pois sua mediunidade é maior. Deve ter sido curioso o como essas meninas e esse homem ficaram inventando baboseiras uns para os outros, sabe? E o como o ouvinte acabava até confirmando e complementando, mas enfim.

Ele reproduz também muitos textos de pessoas que lhe enviaram cartas contando suas "observações de seres elementais" também. Ele até faz um levantamento para concluir que eles gostam de calor e rebate a quem alega que tais "visões" poderiam ser causadas por insolação. Sim, ele quer muito acreditar nisso, já que não crê mesmo que as meninas mentiram. Também há cartas reproduzidas de pessoas que não acreditaram na história, uma delas, muito interessante por sinal, onde o homem rebate que a garota mais velha trabalhou com um fotografo e por isso era capaz de manipular imagens.

Mas o que Doyle e Gardner fazem? Eles não procuram o tal fotografo, apenas acreditam na palavra do pai da menina que alega que a filha apenas era uma auxiliar que entregava cartas e não teve nunca contato com uma máquina antes do dia que tirou a primeira foto. O que deveria ter sido algo suspeito para eles, mas parece não ter mesmo chamado a atenção dos dois a ponto de corroborar ou não tal informação. E, se parassem para pensar, teriam notado o quanto é suspeito alguém que nunca tocou em uma máquina antes ter tirado uma primeira foto na vida tão bem enquadrada e nítida. Aliás,eles defendem que a menina nunca tirou fotos antes, crendo na palavra do pai dela, ao ponto de contestar o rapaz que "praticamente esfregou a verdade na fuça deles".

Ou seja, tivemos pelo menos três pessoas que tentaram sim alertá-los do quanto a coisa era suspeita (o médium espírita, a pessoa da casa de fotografia que disse poder reproduzir a imagem em estúdio e o leitor que contou que a menina tinha capacidade sim para tal), mas a tal moral do pai da moça era inabalável para esses homens e eles seguem acreditando na veracidade das fotos, já que elas não foram contestadas por especialistas (lembrando que não foi exatamente isso que os especialistas falaram das fotos).

Por fim, deixe-me falar um pouco sobre a análise final do livro, que foi feita pelo tradutor da obra Eduardo Caamaño. Ele começa batendo na tecla de que se o autor era espírita por isso acreditava em fadas (embora na verdade ele fosse espiritualista quando aconteceu o lance das fadas e não espírita, mas explico isso depois). Aquela velha métrica do senso comum de quem não entende patavinas do negócio e acha que quem acredita que a morte não é o fim do caminho (embora a maioria das religiões cristãs não vejam a morte como o fim, como já disse antes) é algum "tolo" e por isso creem qualquer babaquice sobrenatural.

Ou seja, ele ignora totalmente a carta do Lancaster, que ele mesmo traduziu, ou talvez não conseguiu interpretar o que o médium quis dizer, quem sabe? Por fim, ele acaba reduzindo Arthur a alguém que acredita em qualquer besteira por ser espírita. O que não é assim, já que o único espírita a dar o ponto de vista na obra diz que a foto não era real e até indicou quem deve tê-la fraudado.

Aliás, eu procurei no site da Federação Espírita Brasileira (também conhecida como FEB, mas não aquela que você estudou em História sobre a Segunda Guerra) e nas obras de Allan Kardec e não achei nenhuma menção sobre "crer em fadas". Só para pontuar, eu não conheço nenhum espírita que acredite em fadas e embora eu conheça poucos, só uns 2 mil (sei que não conheço todo mundo e que minha vida não é métrica, mas creio ser um bom número), creio que pelo menos alguns dentre esses eu deveria ter encontrado, já que alegam que é "algo tão comum entre os espíritas". Afinal, em pelo menos 2 mil deveria ter uns 51%, no mínimo, acreditando em fadas para que o tal senso comum fosse válido, já que tanta gente usa o tal argumento para desqualificar o autor.

Outro ponto que me chamou a atenção na análise, é que ele diz que "o pai" não deu importância as fotografias, que ele não acreditou na filha e nem tocou mais no assunto, mas "a mãe" que acreditava em ocultismo e era "espírita e teosofica" (que o próprio google em uma pesquisa bem básica me mostrou serem duas doutrinas diferentes e até conflitantes) foi num congresso e levou as tais fotos como "uma prova de que fadas existem" e isso acabou chegando no Arthur Conan Doyle. Lembrando que, no texto original é o pai quem dá trela pras meninas e a mãe "só confirma a história que ouviu" segundo Doyle. Então, para mim, isso soou meio que uma desculpa misógina para parecer que as mulheres são mesmo umas loucas que se deixam enganar e iludiram até um autor famoso, quando tudo leva a crer que o picareta era (como descrito pelo guia) um homem e as atitudes dele corroboram com isso no final das contas.

Na análise ele também alega que Arthur Conan Doyle deixava de escrever para ficar em sessões espíritas, que isso praticamente era o novo passatempo dele e que isso só seria algo "aceitável" se ele, como escritor, o estivesse frequentando essa reuniões a título de investigar para escrever algum livro. Pois bem, acontece que a pessoa que analisou parece não ter mesmo muito conhecimento da obra de Doyle, já que ele escreveu 3 livros sobre o tema (não 1, não 2, mas 3!! Três. T-R-Ê-S!).

Um deles, inclusive já resenhado aqui no blog, "A Terra da Bruma", onde Doyle fala sobre o quanto é mais fácil achar charlatões que tentam ganhar dinheiro com a boa fé das pessoas do que médiuns que não ganham dinheiro em troca das "mensagens dos mortos". O livro debate diversos pontos e tramas paralelas, entre eles o caso de um médium que opta sim por fazer dinheiro com seu dom, ao invés de ajudar as pessoas por bondade e gratuitamente, e ele é enfático em mostrar o como médium não se deu nada bem no final (nem com a polícia e nem com seu guia, que o abandonou e deixou brecha para os espíritos "do outro lado").

Então, fora "A Terra da Brum", as outras duas obras do autor escritas com base nessas pesquisas foram: "A Nova Revelação" (que é praticamente as palestras que ele assistiu e posteriormente acabou replicando-as transcritas em livro) e um que pode explicar um pouco essa confusão de senso comum, já que a "A história do Espiritualismo" (lançada em 2017 pela editora FEB) anteriormente foi lançado na década de 80/90 pela editora Pensamento (uma editora ocultista) traduzido erroneamente como "A História do Espiritismo".

Mas e qual é a diferença de Espiritismo e Espiritualismo, você deve estar se perguntando, certo? Espiritualismo é o termo mais antigo e ele já existia e tinha um significado próprio antes de "espiritismo". Os espiritualistas acreditavam que morrer não era o fim, mas não acreditavam em reencarnação, apenas que os espíritos poderiam continuar existindo em outro plano. Eles dedicavam-se a estudar fenômenos ocultistas, como casas tidas como "mal assombradas" e não encaravam isso como uma religião/doutrina, era apenas como uma área de estudo como a matemática, a física ou a geografia. Ser espiritualista era ter uma outra religião ou até mesmo nenhuma, já que não existia nenhuma base Bíblica sobre os estudos, e ainda assim estudar o espiritualismo em si. E ainda cabe pontuar que nem todos os espiritualistas se converteram ao espiritismo, já que eles possuiam suas próprias religiões e dogmas.

Allan Kardec mesmo começou, tal como Doyle, sendo um espiritualista e quando começou a descrever a doutrina filosófica com base na interpretação espiritual dos ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo criou o novo termo, "espiritismo", para diferenciá-lo. Ele até explica com mais afinco a diferença entre ambos no comecinho do livro "O Que É Espiritismo" (que normalmente custa entre 5 e 7 reais em bancas ou sites, mas pode ser baixado gratuitamente aqui) que possui resenha no blog. Para os espíritas, resumidamente, tudo na vida é uma cadeia de acontecimentos totalmente explicáveis e lógicos. Mesmo que certas situações pareçam erradas, a explicação delas está nas vidas passadas, pois o espirito é imortal e reencarna diversas vezes até ser evoluído o bastante e não precisar mais fazê-lo.

Uma outra forma de ver a relação do autor com o espiritualismo é ver o como ele começou a estudar o fenômeno da morte segundo suas inúmeras biografias. Por muito tempo, enquanto sua esposa estava em coma, ele visitava médiuns e pedia para "se comunicar com ela", sem avisar que ela não estava propriamente morta. A grande maioria sempre "conseguia" e ele os ouvia falar até que soltassem algo que dava a entender que ela já havia morrido, isso o fazia riscar a pessoa de seu estudo e avaliá-lo como charlatão que a pessoa realmente era. Ou seja, ele era muito cético, embora tenham criado essa aura de "inocente e facilmente manipulado" para ele.

Aliás, a mini-série da Fox "Houdini and Doyle" de 2016 usou isso como parte da trama de Doyle e o como ele vai descobrindo as verdades e mentiras disso tudo para escrever seu livros. Infelizmente a série não chega ao ponto em que ele escreve os três livros, já que acabou sendo cancelada, mas dá para ser ter uma boa ideia de como foi o processo dele quanto ao espiritualismo e o espiritismo, o como ele passou de simples estudioso para alguém que crê naquilo. Ainda sobre a série, a amizade entre ele e o famoso mágico na vida real se deu apenas por cartas, mas a série usou acontecimentos verídicos e pessoais de cada um como mote para cada um dos capítulos e era bem interessante.

E apenas para encerrar, já que eu escrevi um pouco demais (me perdoem). Neste livro Arthur realmente saiu por aí colecionando "depoimentos" de pessoas que alegaram ver fadas ou duendes e o como isso se acometeu. Mais ou menos como os ufólogos fazem hoje para dar veracidade aos "contatos imediatos entre humanos e extraterrestres". Como houveram muitas pessoas, ele teve todo um trabalho de levantar uma ficha sobre a "moral" de cada um.

Cientificamente falando, ele fez um apanhado jornalístico sobre o tema e colheu informações de ambos os lados, daqueles que acreditavam e dos que não acreditavam em fadas. O grande problema foi tomar partido para um lado e desmerecer os argumentos do lado contrário. Ainda assim, mesmo tomando partido, ainda temos que admitir que colocar o ponto de vista contrário (ainda que fosse para tentar desmerecê-lo de alguma forma) foi mais do que muitos jornalistas fazem atualmente e para um médico, que não era realmente um jornalista, foi uma atitude até admirável, já que presou por ouvir ambos os lados, como a mídia deve(ria) fazer sempre.




Comentários